sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Terapia em Pompéia : um "insight...

Foi nas diversas versões cinematográficas dos últimos dias de Pompéia que "eu me encontrei." Cruel contra-ponto, considerando aqueles cidadãos perdidos, em desespero com a iminente erupção do vulcão, correndo desesperançosos, agarrados às suas ânforas,às suas crianças e aos seus leitões enquanto,ao fundo, reinava solene o telão cenográfico, reproduzindo a paisagem causadora de tanta desgraça: várias montanhas e em meio a elas o impávido colosso, o Vesúvio, indiferente a tudo, gozando com antecedência o momento em que ,brevemente, iria expelir a larva devoradora da carne das pobres e desvalidas criaturas.O mais estranho era que, apesar de todo o empenho do diretor de arte ,a cena sempre se passava em dois níveis - ou dois planos - quer dizer, não havia jeito daquela população desorientada se juntar, objetiva e subjetivamente, àquela pintura ameaçadora; faziam cara de aflição,esgares de terror,mas nada fundia aquela gente à reprodução longínqua que regia a cena em questão: os derradeiros momentos de uma cidade ameaçada de extinção. Eles lá, morrendo um a um, e aquele grande monte com neve no topo e fumacinha saindo, na maior calma, em um aparente grau de espiritualidade elevado, inalcançável pelos mortais defronte, vassalos à sua mercê, vítimas de sua índole assassina. Depois de vivenciar fobias, pensamentos mágicos e transtornos obssessivos em outros filmes históricos de baixíssimo orçamento, desta vez o insight foi outro: entendi bem, naquela minha poltrona-divã , a extensão do significado de solidão, desajuste e rejeição. Uma grande indiferença no estúdio ao seu redor e você lá, em seus extertores finais, frente ao seu destino fatal ,alvo da zombaria e do capricho dos deuses,incapaz de se "inserir no contexto" . Justiça seja feita a todos estes extras, estes integrantes do segundo escalão, vítimas de uma esquizofrenia cênica que ,mesmo vivendo esta disparidade- atores e cenários flutuando em esferas distintas- tinham em seus rostos a expressão perplexa dos que vão morrer , cientes talvez de que na " vida real", mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro, a coisa será pra valer.

Muito tempo depois, em um viagem de carro pela Itália, passei em frente a Pompéia e , inexplicavelmente, não entrei ali para visitar suas ruínas. Após anos de arrependimento por este descaso repentino, hoje tenho uma visão mais clara e menos culpada do que aconteceu: obcecado pela psicologia barata com me deliciei no meu passado, o que se passou ali,verdadeiramente, há muitos séculos, não tinha,na realidade, nada a ver comigo. O que eu gostava mesmo era de ficar ali no cinema, obilubilado diante de um filme B, " em busca de minha verdade interior".

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