terça-feira, 5 de outubro de 2010

Calatrava generico

Não houve como evitar: o trailer do filme baseado em Chico Xavier, " Nosso Lar " ( nosso, cara-pálida?) passou em tudo quanto é lugar .E aí , entre outras considerações, fiquei pensando: por que será que todo filme espiritualizado, passado no Além, tem arquitetuta de um Calatrava genérico? Sim, ele mesmo,o arquiteto espanhol ( do qual tem se falado muito por aqui nos trópicos pelo museu mar adentro que projetou para o Rio de Janeiro) que acabou se tornando causa e consequência de um estilo : tornou realidade aquelas construções que víamos há muitos anos atrás nos filmes sobre a vida no ano 2000 e ao mesmo tempo gerou um modelo para outro tipo de ficção: a vida após a morte. O que vi no curto trecho da história , mostra edifícios com estruturas leves, aerodinâmicas, pressupondo , da mesma forma que os pseudo- projetos exibidos,que faremos uma passagem para algo mais leve, mais claro, com uma uma luz difusa e , quem sabe? até mesmo flutuantes,caminharemos sobre as águas, como o faz o autor com suas verdadeiras obras. Tal sensação tem no figurino um forte colaborador; todo mundo de branco ,o que não é bom ,já que, pelo visto,revivemos com o corpo que morremos - a maior parte em idade avançada e, em geral , com barriga e pneuzinhos - e cor clara, como sabemos, neste caso não ajuda em nada ( mais um equívoco da direção- de arte- horizonte- perdido) . Deveríamos renascer, jovens, bonitos e, sobretudo, magros. Paraíso deveria ser a promessa cumprida, feita em campanha aqui na Terra pela religião, de que seremos eternamente felizes : poderemos comer e beber tudo sem engordar , usaremos aquelas roupas pretas, justas e na moda e, com o corpo em forma e chics , seduziremos todos que desejarmos. Quem ,depois de ralar a vida toda, trabalhar pra burro para ganhar o pão-nosso-de-cada-dia, fazer dieta e o diabo a quatro,quer ir para o Paraíso vestindo um camisolão tipo hospitalar? Nem pensar. Já que foi impossível em nossa rápida trajetória terrena, a gente quer usar Prada na eternidade.
Nossa plataforma,prezado mortal , é outra , e é aqui e agora: nada de falsas propostas , construções com jeito de estádio de Olimpíada , roupas desestruturadas feitas com aquele pano ralinho. Nós descrentes, queremos um verdadeiro criador para a coordenação geral do caos do dia-a-dia ; um idealizador capaz de uma postura contemporânea, simples,absolutamente despojada e, melhor, sem aqueles artifícios que nos insuflam o mal que, por ser o mais perigoso de todos, foi o último a ser tirado da caixa de Pandora: a Esperança.






Um Calatrava não falsificado





Pandora e sua caixa

Location:Vila del Rey

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