terça-feira, 26 de outubro de 2010

Esprit de Corps

Quando foi criado em 1975, o nome escolhido teve um duplo sentido:obviamente se referia ao corpo humano como ferramenta da dança mas também à idéia de conjunto, um grupo de pessoas unidas como partes de um todo, em função de um conceito e de um belo trabalho: Grupo Corpo Companhia de Dança.
A partir de 1992 , com "21" ( música Uakti), fez-se algo novo na dança do nosso país: as trilhas musicais usadas em seus espetáculos passaram a ser especialmente compostas por grandes músicos brasileiros e o vocabulário coreográfico que resultou daí, pelas mãos de Rodrigo e Paulo, foi -e continua sendo- igualmente inovador. Colaboradores de áreas diferentes foram chamados para criar cenário, figurino, iluminação,design gráfico, etc, e deram ao Grupo uma identidade visual que se tornou sua marca registrada. Curiosamente, há mais de 50 anos antes disto tudo acontecer, Diaghilev não fazia coisa muito diferente com a sua companhia " Ballets Russes". Em uma destas sincronicidades junguianas ( ou se preferir , coincidências do tipo "nada acontece por acaso"), abri o livro "Art of our Century", há tempos abandonado na estante, exatamente na página que mostra, na transcrição de uma matéria de 1924, a estréia de seu novo trabalho , "Blue Train" , no Théâtre des Champs Élisées em Paris. Depois de escandalizar as platéias com espetáculos como " L'après midi d'un faune"( onde Nijinsky simulou um ato sexual em cena), desta vez ele escolheu como tema o trem expresso que ligava a capital francesa à Riviera e o deleite de seus passageiros nas praias do litoral mediterrâneo. A turma que ele convocou foi a seguinte: o libretto foi encomendado a Jean Cocteau , a música composta por Darius Milhaud e a coreografia coube a Bonisklava Nijinska ( irmã de Nijinsky). O cenário ficou a cargo do escultor cubista Henri Laurens e o figurino foi feito por Gabrielle (Coco) Chanel. Picasso,que fez desenhos para ilustrar o programa, ficou impressionado com o efeito da cortina do proscênio, uma enorme reprodução de uma pintura sua feita alguns anos antes, "A corrida". Todo o mundo estava lá.
Não por coincidência, mas pelo mérito de sua obra, o Corpo vai se apresentar mais uma vez, no próximo mês , no mesmo palco do Théâtre des Champs Élisées, na elegantíssima Avenue Montaigne. Entretanto, não vai encontrar ,com certeza, o ambiente pós Belle Époque que povoava a cidade e as platéias do teatro nas apresentações do balé russo ,oitenta e seis anos antes. Depois de passar por aeroportos lotados e rígidos esquemas de segurança, vai enfrentar,sim, uma população agitada, fazendo greves e passeatas, protestando contra a política de Nicolas Sarkosy.
Fazer o que? C'est la vie.




" Blue Train"- 1924





Detalhe da cortina : Picasso , "A corrida".

Location:Vila del Rey

2 comentários:

  1. Oui cher Ami – Paris não é a mesma. Mas não perdeu o encanto.
    Não sei se falei com você que faço parte ( com muita honra) do Conselho do Corpo Cidadão.
    Bj.Barbara

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  2. Fernandíssimo,
    É com delícia que te leio!
    Fique dito assim de um modo explícito.
    Saudades muitas, bafejadas pela infalível e benvinda baforada nova dos cadernos de viagem.
    Besos,
    Zé Miguel

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