sábado, 2 de outubro de 2010

Me and Mr.Walker

Toda vez que perguntavam ao Fantasma se ele era imortal, ele respondia daquela maneira insuportável- como o fazem Pelé e outros tantos ilustres idiotas- referindo-se a si próprio ,esquizóide, na terceira pessoa do singular: " O Fantasma é." Na verdade, nós leitores,bem como seu fiel cachorro Capeto ( que se expressava através de arfs,arfs... e que eram traduzidos em palavras em um balāozinho desenhado acima de sua cabeça) sabíamos que não era bem assim: a tradição do Fantasma era,sim, mantida de pai para filho há mais de quatrocentos anos , sem nenhuma interferência do Além no assunto. Meio esquisitão ele,pensando bem agora com um certo distanciamento crítico: à noite , se transformava em Mr. Walker e caminhava a esmo pelo cais do porto, a bordo de uma gabardine fechada por um cinto amarrado com um nó ( tinha cintura fina) ;se havia aí qualquer coincidência com a marca de whisky, é um assunto que nunca foi esclarecido pela revista pois,pelo menos teoricamente,ele não bebia.E não se casava tampouco.Tinha uma pobre coitada de uma moça, Diana, que esperou,literalmente,séculos por ele e,nada! Talvez por ser esta tão instigante criatura que não bebia,nāo transava e,aparentemente, nāo morria também , foi morar no meio da floresta, dentro de uma caverna em forma de caveira , que ele dividia,se nāo me engano, com um pigmeu gordinho (que usava um chapéu de palha tipo chinês-em-plantação-de-arroz , que lhe conferia um charme todo especial pois combinava com a sainha,também de palha) lider de uma comunidade alternativa de afro-descendentes não longelíneos, para colocar a coisa toda corretamente.Aparentemente ,são felizes, se não para sempre,pelo menos até agora, quatro século depois , o que , convenhamos ,é uma façanha e tanto , digna do Uganda Book of Records ( na floresta não é permitida a publicação de impressos de países com mentalidade colonialista).Uma dupla desigual, porém muito simpática.
Minha história se cruza com do Fantasma em vários aspectos: além de fan , de morar dentro de uma pequena matinha, de me considerar atualmente meio recluso e esquisito, tenho na familia uma profissão que passa de pai para filho já há bastante tempo: psiquiatra. Nossas semelhanças,no entanto, terminam aí : ao contrário dele, não dei continuidade a esta bela missão de ajudar cabeças alheias; provavelmente, vítima de uma praga , rogada por algum cliente enraivecido tipo " Um dia vocês vão ter um na família",eu sou, ou melhor, " Fernando é ", meu herói que me perdoe, o que se pode chamar de- sem precisar de nenhuma legenda explicativa nem companheiro de caverna - a vingança da clientela.





O Fantasma, Capeto e o cavalo Herói

Location:Vila del Rey

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