sábado, 30 de outubro de 2010

A festa de Brennand: um "mico" faraônico

Imagino que tenha passado pela cabeça de Cecil B. DeMille a possibilidade de filmar sua super produção, " Os Dez Mandamentos" ,em um país tropical - talvez pelas dunas nordestinas ou pela taxa menor de impostos, sei lá- e ele ligou para Francisco Brennand lhe pedindo que desenhasse e construisse parte dos cenários ,aqueles mais grandiosos reservados à história passada no reino dos faraós.Só assim é possível explicar as dimensões ,o acúmulo de peças monumentais, fontes e efeitos de luz que definem seu atelier de cerâmica nos arredores de Recife.E foi aí , fazendo a mais humilde figuração, que paguei um dos maiores micos da minha vida: um jantar para 1200 membros da aristocracia rural nordestina, todos devidamente paramentados , assentados em mesas à luz de velas com orquestra tocando, e nós, eu e meu amigo Joe, vestidos com roupa de praia, como naqueles pesadelos que a gente sonha que está nú no meio da rua. A história que antecede este mal entendido é a seguinte: eu trabalhava com uma galeria em Recife cuja proprietária, Cecília, pertence à esta poderosa e tradicional família de Pernambuco. Passávamos uma temporada de férias na cidade e num de nossos encontros , o convite foi feito por ela, minha marchande, com muita simplicidade:" Temos amanhã a festa de casamento de uma sobrinha; vocês não gostariam de ir"? " Gostaríamos", respondemos, na falta de outro programa mais interessante e também por não querer ser indelicados com a nossa cicerone.
O Joe, pela prática que adquiriu mundo afora, viaja com uma mala tão pequena que é levada dentro do avião ( para , sabiamente, evitar a espera da bagagem nas esteiras); dentro dela, no máximo, umas duas calças, um outro par de bermudas e , imagino ,umas 4 camisas.E só. Eu, que já levei até terno de panamá branco para o Arraial de Ajuda (!!!) , estava tentando mais ou menos acompanhá-lo nesta rigorosa contenção e não carreguei na bagagem nem um paletózinho sequer. Trágico engano.Quando descemos ao hall e encontramos nossa amiga nos aguardando a bordo de um vestido de paêtes e jóias ofuscantes ,percebi que havia alguma coisa terrivelmente errada, mas nada nos foi dito a respeito de nossos leves trajes primavera-verão.Fomos no seu carro e algum tempo depois ,a alguns quilômetros do "evento", ao ver tochas de fogo ao longo de todo o caminho já tive a certeza do equívoco cometido , sensação confirmada na chegada com o pequeno exército de manobristas uniformizados que nos aguardava,em número quase tão grande quanto o de convidados. E fomos nós , festa adentro, com um ar terrível de penetras, a julgar pela cara com que nos olhavam. Era batata: a mesa que a gente se assentava, as pessoas se levantavam; algumas senhoras , às vezes esqueciam suas bolsas e voltavam correndo para salvá-las dos dois vândalos.Foi numa destas inúmeras manifestações de rejeição por parte destes senhores canavieiros que tomamos a decisão: vamos nos embriagar imediatamente. Um whisky após o outro e , propositalmente, quase nada de comida para acompanhar. Deu certo, mas o resultado não poderia ter sido pior: a orquestra fez um intervalo, colocaram música gravada e meu acompanhante,antes que eu pudesse impedi-lo, fez um show solo ao som de " Dancing Queen" ( um hit de discoteca) no meio da pista de danças que , por sinal,era de grama artificial. Era a hora do Êxodo, não havia a menor dúvida. Nossa anfitriã, tal qual um Moisés ainda usando roupas da corte egípcia, nos acompanhou até a saída e com ela atravessamos o deserto e cruzamos o Mar Vermelho em direção à cama prometida no nosso hotel.
The End.



Não é a cara dos " Dez Mandamentos"?



O cenário do "mico" aristocrático-rural


Location:Vila del Rey

Um comentário:

  1. Fernando: it is one of my great memories of our travels together. How could I possibly forget that party!!!!!!!! Memories (should be a song).
    Much love,
    JOE

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