terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pina-e nao Amelia- a mulher de verdade.

Eu sou uma pessoa absolutamente comum. Vulgar seria uma palavra muito forte, e brega tambem nao sou.Porem ha lados meus que sao um verdadeiro pega pra capar em materia de falta de apuro e requinte, nao sobra nada. Na literatura , ou melhor, principalmente na literatura era um arraso, nao me escapava um lancamento de Harold Robbins e seus romances com mulheres lindas, homens ricos e casas fabulosas: " Os insaciaveis, " O garanhao ", "Escandalo na..( onde sera que era mesmo?Nao sei se em Park Avenue ou Na alta sociedade , o que, no final das contas dava no mesmo)," Os libertinos ". Tudo que era medio , duvidoso , de mau gosto me atraia e ,de certa forma o faz ate hoje. Sou rasteiro. Em materia de musica bastavam aquelas palavras de amor ditas em varios idiomas e faladas com voz grossa-acho que Anthony Quinn gravou uma " musica" assim certa vez- e um corinho de vozes com violinos ao fundo,para provocar em mim uma sensacao proxima ao extase venereo.Nenhum analista assinaria em baixo, mas eu creio que talvez por ter tido esta afinidade, vamos dizer assim, com musicas e livros que apregoavam romances "extraordinarios", tenha me acontecido o que me aconteceu. Tive a memoravel e rara oportunidade de participar de um jantar certa vez em Neuss, perto de Dusseldorf ,com Pina Bausch, a coreografa alema, que tinha vindo a esta pequena cidade assistir a um espetaculo do Grupo Corpo, a convite de nossa representante europeia de entao ,que ja a conhecia por haver levado sua companhia de danca pela primeira vez ao Festival de Outono de Madri.Pois la fomos nos depois da apresentacao e apesar- ou por causa - desta especialissima e belissima figura de mulher, o encontro estava uma chatice: Pilar, nossa empresaria, tecia louvores, fazia odes ao talento de Pina,palavras que eram traduzidas simultaneamente do espanhol para o alemao por sua ( dela,Pilar) filha. Nada mais improprio, nada mais entediante. Ate que, acometido de minha latejante curiosidade classe media de reporter de revista de fofocas com pos graduacao em livros e cancoes como os ja citados, resolvi perguntar a coreografa sobre sua vida particular. Nao e que deu certo? Estava ao seu lado , o chileno muito bonito, de rabo de cavalo, com quem ela vivia ha muito anos e do qual ela se queixou, brincalhona ,por nao ter se divorciado ainda ,oficialmente, de sua primeira mulher.Ja que ela se queixou tambem da geladeira da casa deles, que era muito velha e tinha de ser fechada a pontapes ,eu fiz um comentario que , hoje relembrado, me faz pensar que puseram alguma coisa no meu vinho: "Va para o Brasil que eu prometo que lhe arranjo um marido rico por la". Eu disse isto e escapei com vida por se tratar de uma especialissima dama capaz de ter , mesmo sendo quem era e diante de um estranho (eu, no caso), muito senso de humor.
Muitos anos depois, saindo do estudio em Sao Paulo, onde estava sendo mixada a trilha de "Onqoto" , estavamos no carro eu e os autores, Jose Miguel Wisnik e Caetano quando, diante de sua raiva por um jornal de Recife ter publicado uma critica negativa de seu show,surrealisticamente,antes do show ter estreado ,eu lhe disse com esta minha boca comum que se recusa a ficar fechada quando deve: Caetano,por que voce nao faz como a Pina? Ela jamais le as criticas sobre seus espetaculos e nunca soube, ou nao se importou ,se gostam ou nao do trabalho dela". Ao que ele prontamente respondeu: " Porque ela e divina e eu sou pedestre. E eu gosto de ser pedestre!
Desta vez, gracas a Deus fiquei calado; nao contei nada do jantar na Alemanha e muito menos da historia da geladeira velha. De perto , quem sabe? talvez ninguem seja normal, mas todo mundo seja comum.
Ate mesmo Pina Bausch e Caetano Velloso.





Pina Bausch

Location:Vila del Rey

2 comentários:

  1. adorei a história.
    muito bom o lance de o chileno não se divorciar da primeira mulher.
    mas acho pina tipo divina, pelo menos quanto a ler críticas de seus espetáculos.
    eu leio o que cai sob meus olhos. e reajo com sinceridade

    ResponderExcluir
  2. ela, talvez ainda mais sinceramente, não queria saber o que diziam sobre o trabalho dela.
    meu analista escreveu em livro que "de perto ninguém é normal" é denegação e má poesia. para ele, "de perto todo mundo é normal".
    uma semana depois li na folhateen o crítico que mais se dedicou a falar mal de mim através das décadas dizendo (em manchete) "de perto todo mundo e normal".
    entre meu analista e esse maluco, você disse algo parecido.
    de perto ninguém é normal mesmo

    ResponderExcluir