quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O elevador do Dr No

Ja andei de metro por controle remoto, sem motorista, em Lyon ( um barato, na frente toda em vidro do primeiro carro e melhor que trem-fantasma de parque de diversao) e ja cruzei o Canal da Mancha debaixo d'agua ,tambem em um trem . Este ultimo,uma chatice, so paredes de concreto dos dois lados, nada a ver com o submarino de Jules Verne ou o escritorio do satanico Dr No, cujo vidro custou bem mais barato que o tunel Londres/Paris - " one million dollars", ele se gaba no filme- e deixa a gente ficar vendo aqueles peixes enormes nadando pra la e pra ca, enquanto ele alisa aquele gato branco peludo. Tudo bem ate ai. Hoje ,entretanto, experimentei um novo artefato de tecnologia avancada que me assustou; apesar de ter visto sua instalacao durante a obra de um sofisticado edificio para o qual fiz um painel no hall, so agora fui experimentar o tal elevador programado. Talvez todo mundo ja conheca- eu, como tenho circulado muito pouco, nao tinha passeado nele ainda - mas de qualquer maneira, o que existe e uma prancha , como aquelas usadas em restaurantes finos onde o individuo fica la plantado conferindo as reservas, so que , como tudo que e contemporaneo, sem viv'alma atras. Voce chega perto, ainda do lado de fora, aperta , ou melhor, digita o andar e a tal tabela lhe indica qual elevador - sao varios- esta disponivel para voce. Quando voce adentra o dito cujo,ai sim, parece ficcao cientifica do tipo que eu gosto : enclausurados no mais fino acabamento em aco inox, sem nenhuma opcao ou botao de comando ,temos a sensacao que vamos ,impreterivel e inexoravelmente descer ate o calabouco- calabouco,nao, e muito Idade Media- melhor dizendo,ate o nivel inferior , e ser jogados naquele pequeno lago de piranhas ,onde os excluidos do " who's who" dos viloes deste tipo de filme sao devorados para horror da plateia que fica vendo o pobre coitado se transformar em um monte de borbolhas cor-de-rosa-misturada-com -agua.Ate me esqueci que estava indo para uma reuniao na diretoria e, olhando distraido para uma tela com imagens coloridas que havia proxima a porta, me espantei quando,ao contrario do que esperava, na verdade,subi. Embuido que estava de um espirito aventuresco ( uma bad trip que misturava James Bond com Indiana Jones ; como e que ninguem nunca pensou nisto? Um " Samba do crioulo doido" do Sergio Porto em formato pulp fiction? Nao, Tarantino, nao chegou a tanto...) ja fiquei imaginando que minha sina era outra : seria levado ate o topo ( topo e o tipo da palavra que combina bem aqui neste tipo de historia) do edificio e de la , viajaria em um agil helicoptero negro com guardas armados , ate alto mar, onde seria jogado - e sempre assim!- para ser deglutido por tubaroes. Mas afinal por que tanta culpa,tantos castigos aquaticos infringidos por maquinas contemporaneas ferozes e peixes variados- agua doce e salgada- famintos? Se fosse filme de Woody Allen seria culpa judaico- crista misturada com trauma de aquario no quarto quando crianca . Mas nao e. Alias ,nao e nada mesmo, e um encontro com algumas pessoas da construtora e so. A porta de meu contemporaneo carcere ( seculo XIV ou XV outra vez) se abriu e o pior aconteceu : ao inves de serpentes se enroscando em um fosso , piranhas famelicas saltitantes no ar, flechas com pontas infectadas de um veneno mortal, havia uma serie de portas de blindex ,impressas com a logomarca da empresa, um sofa cujo design exiguo pressupunha uma espera breve e desconfortavel , e uma recepcionista, que nem loura fatal com adaga na liga era.
Nao sei por que saio de casa ; toda vez e a maior decepcao.





Dr No, com os peixes ao fundo

Location:Vila del Rey

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