quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O elevador do Dr No

Ja andei de metro por controle remoto, sem motorista, em Lyon ( um barato, na frente toda em vidro do primeiro carro e melhor que trem-fantasma de parque de diversao) e ja cruzei o Canal da Mancha debaixo d'agua ,tambem em um trem . Este ultimo,uma chatice, so paredes de concreto dos dois lados, nada a ver com o submarino de Jules Verne ou o escritorio do satanico Dr No, cujo vidro custou bem mais barato que o tunel Londres/Paris - " one million dollars", ele se gaba no filme- e deixa a gente ficar vendo aqueles peixes enormes nadando pra la e pra ca, enquanto ele alisa aquele gato branco peludo. Tudo bem ate ai. Hoje ,entretanto, experimentei um novo artefato de tecnologia avancada que me assustou; apesar de ter visto sua instalacao durante a obra de um sofisticado edificio para o qual fiz um painel no hall, so agora fui experimentar o tal elevador programado. Talvez todo mundo ja conheca- eu, como tenho circulado muito pouco, nao tinha passeado nele ainda - mas de qualquer maneira, o que existe e uma prancha , como aquelas usadas em restaurantes finos onde o individuo fica la plantado conferindo as reservas, so que , como tudo que e contemporaneo, sem viv'alma atras. Voce chega perto, ainda do lado de fora, aperta , ou melhor, digita o andar e a tal tabela lhe indica qual elevador - sao varios- esta disponivel para voce. Quando voce adentra o dito cujo,ai sim, parece ficcao cientifica do tipo que eu gosto : enclausurados no mais fino acabamento em aco inox, sem nenhuma opcao ou botao de comando ,temos a sensacao que vamos ,impreterivel e inexoravelmente descer ate o calabouco- calabouco,nao, e muito Idade Media- melhor dizendo,ate o nivel inferior , e ser jogados naquele pequeno lago de piranhas ,onde os excluidos do " who's who" dos viloes deste tipo de filme sao devorados para horror da plateia que fica vendo o pobre coitado se transformar em um monte de borbolhas cor-de-rosa-misturada-com -agua.Ate me esqueci que estava indo para uma reuniao na diretoria e, olhando distraido para uma tela com imagens coloridas que havia proxima a porta, me espantei quando,ao contrario do que esperava, na verdade,subi. Embuido que estava de um espirito aventuresco ( uma bad trip que misturava James Bond com Indiana Jones ; como e que ninguem nunca pensou nisto? Um " Samba do crioulo doido" do Sergio Porto em formato pulp fiction? Nao, Tarantino, nao chegou a tanto...) ja fiquei imaginando que minha sina era outra : seria levado ate o topo ( topo e o tipo da palavra que combina bem aqui neste tipo de historia) do edificio e de la , viajaria em um agil helicoptero negro com guardas armados , ate alto mar, onde seria jogado - e sempre assim!- para ser deglutido por tubaroes. Mas afinal por que tanta culpa,tantos castigos aquaticos infringidos por maquinas contemporaneas ferozes e peixes variados- agua doce e salgada- famintos? Se fosse filme de Woody Allen seria culpa judaico- crista misturada com trauma de aquario no quarto quando crianca . Mas nao e. Alias ,nao e nada mesmo, e um encontro com algumas pessoas da construtora e so. A porta de meu contemporaneo carcere ( seculo XIV ou XV outra vez) se abriu e o pior aconteceu : ao inves de serpentes se enroscando em um fosso , piranhas famelicas saltitantes no ar, flechas com pontas infectadas de um veneno mortal, havia uma serie de portas de blindex ,impressas com a logomarca da empresa, um sofa cujo design exiguo pressupunha uma espera breve e desconfortavel , e uma recepcionista, que nem loura fatal com adaga na liga era.
Nao sei por que saio de casa ; toda vez e a maior decepcao.





Dr No, com os peixes ao fundo

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma cidade sem lei

A ultima vez que estive em Juiz de Fora,ja ha alguns anos, senti uma coisa esquisita: havia uma ou duas ruas centrais muito movimentadas,( com tudo que uma grande metropole tem direito: engarrafamento, onibus e caminhoes soltando muita fumaca, barulho de buzina , anuncios acumulados nas fachadas...) mas, se olhassemos por uma greta entre as construcoes , como eu fiz, havia la atras daquilo tudo uma paisagem bucolica ,com vacas pastando.Como eu relaciono tudo em minha vida com o cinema ( desde menino,portanto bem antes do " Beijo da Mulher Aranha") associei aquilo a um cenario de Hollywood com aquelas casas de faroeste que so tem fachada e que ,"nonada", escoradas por tras , serviam de fundo para aqueles justiceiros e redentores duelos ao entardecer. Ja pensou no titulo do filme:"O homem que matou o fascinora na Manchester mineira"? Ou, um paradoxo,"Juiz de Fora, a cidade sem lei?"
Existe ou existiu , sim,uma rixa entre Belo Horizonte e esta cidade que,todo mundo sabia, se achava mais carioca que mineira. Fazia parte das intrigas tambem o fato de ,dizia-se, eles acharem que tinham mais condicao de ser a capital do Estado de Minas Gerais.Toda oportunidade que havia a gente fazia uma brincadeira; Humberto Werneck, o brilhante escritor e jornalista, tem em seu curriculo ( feito nao por ele mas por seus admiradores desde o Colegio Estadual Central) um caso que eu adoro e torco para que tenha, reamente ,acontecido: a caminho do Rio, partindo de BH, parou na esquina mais movimentada da internacionalmente famosa rua Halfeld e , vendo um grupo de pessoas conversando, pos a cabeca para fora do carro e perguntou: " Pssssst, como e que se chama mesmo este lugarzinho aqui?" Se o motor do carro nao tivesse sido mantido ligado ele, certamente, teria sido linchado.O fato e que nunca houve mesmo nenhum tipo de verdadeira conexao entre as duas cidades, muito menos, que eu saiba, na area cultural, minha seara. Tenho grandes amigos nascidos la e a todos digo com ar de ( falsa) exclusividade: " voce e a melhor , ou talvez ,a unica coisa boa produzida por Juiz de Fora".Uma destas pessoas,Thais,me contou ,ha anos atras ,uma historia muito engracada, que serve como metafora perfeita para nossa constante perplexidade existencial.
La vai. Havia um sujeito muito rico na cidade mas que era analfabeto. Seu nome: Neco Venancio.Pois bem. Estava la ele no banco , em pe junto ao balcao, colocando em um cheque - atividade para a qual havia se treinado, cuidadosa e repetidamente - sua assinatura. No meio do "bordado", letra por letra, passa um conhecido, lhe da um tapinha no ombro e diz: " Oi, Neco, tudo bem ?" Logo apos responder ao cumprimento , pobre criatura perdida, olhou para o papel em que vinha com tanto trabalho escrevendo, e disse para si mesmo: "Ai meu Deus, agora nao sei se estou no Neco ou no Venancio"...Tem coisa melhor para definir nossa situacao?




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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pina-e nao Amelia- a mulher de verdade.

Eu sou uma pessoa absolutamente comum. Vulgar seria uma palavra muito forte, e brega tambem nao sou.Porem ha lados meus que sao um verdadeiro pega pra capar em materia de falta de apuro e requinte, nao sobra nada. Na literatura , ou melhor, principalmente na literatura era um arraso, nao me escapava um lancamento de Harold Robbins e seus romances com mulheres lindas, homens ricos e casas fabulosas: " Os insaciaveis, " O garanhao ", "Escandalo na..( onde sera que era mesmo?Nao sei se em Park Avenue ou Na alta sociedade , o que, no final das contas dava no mesmo)," Os libertinos ". Tudo que era medio , duvidoso , de mau gosto me atraia e ,de certa forma o faz ate hoje. Sou rasteiro. Em materia de musica bastavam aquelas palavras de amor ditas em varios idiomas e faladas com voz grossa-acho que Anthony Quinn gravou uma " musica" assim certa vez- e um corinho de vozes com violinos ao fundo,para provocar em mim uma sensacao proxima ao extase venereo.Nenhum analista assinaria em baixo, mas eu creio que talvez por ter tido esta afinidade, vamos dizer assim, com musicas e livros que apregoavam romances "extraordinarios", tenha me acontecido o que me aconteceu. Tive a memoravel e rara oportunidade de participar de um jantar certa vez em Neuss, perto de Dusseldorf ,com Pina Bausch, a coreografa alema, que tinha vindo a esta pequena cidade assistir a um espetaculo do Grupo Corpo, a convite de nossa representante europeia de entao ,que ja a conhecia por haver levado sua companhia de danca pela primeira vez ao Festival de Outono de Madri.Pois la fomos nos depois da apresentacao e apesar- ou por causa - desta especialissima e belissima figura de mulher, o encontro estava uma chatice: Pilar, nossa empresaria, tecia louvores, fazia odes ao talento de Pina,palavras que eram traduzidas simultaneamente do espanhol para o alemao por sua ( dela,Pilar) filha. Nada mais improprio, nada mais entediante. Ate que, acometido de minha latejante curiosidade classe media de reporter de revista de fofocas com pos graduacao em livros e cancoes como os ja citados, resolvi perguntar a coreografa sobre sua vida particular. Nao e que deu certo? Estava ao seu lado , o chileno muito bonito, de rabo de cavalo, com quem ela vivia ha muito anos e do qual ela se queixou, brincalhona ,por nao ter se divorciado ainda ,oficialmente, de sua primeira mulher.Ja que ela se queixou tambem da geladeira da casa deles, que era muito velha e tinha de ser fechada a pontapes ,eu fiz um comentario que , hoje relembrado, me faz pensar que puseram alguma coisa no meu vinho: "Va para o Brasil que eu prometo que lhe arranjo um marido rico por la". Eu disse isto e escapei com vida por se tratar de uma especialissima dama capaz de ter , mesmo sendo quem era e diante de um estranho (eu, no caso), muito senso de humor.
Muitos anos depois, saindo do estudio em Sao Paulo, onde estava sendo mixada a trilha de "Onqoto" , estavamos no carro eu e os autores, Jose Miguel Wisnik e Caetano quando, diante de sua raiva por um jornal de Recife ter publicado uma critica negativa de seu show,surrealisticamente,antes do show ter estreado ,eu lhe disse com esta minha boca comum que se recusa a ficar fechada quando deve: Caetano,por que voce nao faz como a Pina? Ela jamais le as criticas sobre seus espetaculos e nunca soube, ou nao se importou ,se gostam ou nao do trabalho dela". Ao que ele prontamente respondeu: " Porque ela e divina e eu sou pedestre. E eu gosto de ser pedestre!
Desta vez, gracas a Deus fiquei calado; nao contei nada do jantar na Alemanha e muito menos da historia da geladeira velha. De perto , quem sabe? talvez ninguem seja normal, mas todo mundo seja comum.
Ate mesmo Pina Bausch e Caetano Velloso.





Pina Bausch

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domingo, 26 de setembro de 2010

Mapa astral: uma feira de vaidades

Ze Miguel Wisnik e um cara legal e faz mapa astral. E o faz muito bem: fiquei nervoso quando ,so nos dois na mesa do restaurante, abriu o desenho que a meu pedido havia feito e comecou a explicar a minha situacao ,astrologicamente falando.Nesta epoca , mais que em qualquer outra da minha vida, a situacao estava preta para o meu lado e o mapa me pareceu todo sujo de cocozinhos de mosquitos, tal era a concentracao de pontos proximos uns aos outros naquelas linhas circulares.Lembro-me bem de uma coisa que ele me disse, que era mais ou menos assim" Voce,como eu, tem dificuldade em se relacionar com tal planeta ( nao sei mais se era Jupiter,Mercurio ou algum outro colega deles) e por isto o sucesso profissional e mais dificil e mais demorado de acontecer ( ou,pelo menos de ser reconhecido como tal)"
Homem brilhante em todas as areas pelas quais incursionou ,ainda nao era realmente conhecido como,merecidamente, o e hoje. E ,da mesma maneira que todos nos mortais , passou por algumas situacoes engracadas relacionadas a este tal negocio complicado, que ninguem define direito o que e: a fama.
Dividimos um apartamento de hotel em Paris ,certa ocasiao,quando o Corpo apresentava na cidade trabalhos com duas trilhas suas: " Nazareth" e "Parabello"( esta em parceria com Tom Ze) e ,como o Theatre Champs Elysees fica no eixo das maisons chiques parisienses, a celebre Avenue Montaigne, eu vivia chateando-o, dizendo-lhe que deveriamos fazer um tour pela Dior, Chanel , e todas as outras marcas famosas que estavam logo ali na nossa vizinhanca. Exatamente ao lado da entrada dos artistas fica a Maison Valentino e talvez por passarmos em frente a loja toda hora,em uma de minhas provocacoes ele me disse: " Sabe que eu conheco o Valentino?" E me contou a historia que ilustrava perfeitamente os vaticinios cosmicos que, ate entao, nos estavam reservados com relacao a inatingivel notoriedade. Certa vez chegou em NY e foi do aeroporto diretamente ao local onde Caetano se apresentava para assistir ao seu show, razao principal de sua viagem. Apos o espetaculo, havia uma festa da revista Vanity Fair e Caetano e Paula ,que eram convidadissimos,tanto insistiram que levaram-no com eles, a bordo de um casaco emprestado ali na hora. Era festa de tapete vermelho e tudo e todas-mas todas mesmo-as celebridades estavam la, incluindo Monsieur Valentino ( jogando sinuca com Bianca Jagger?Acho que era isto). Mas o barato adicional da noite eram umas mocas orientais que,fazendo "bico" ali naquela noite como garconetes, exibiam gestos coreograficos ,complicados e sensuais , com os bracos e as maos, antes de servir o champagne na "flute" dos convidados. Nosso heroi, a estas alturas, ja se considerava mais um entre tantos eleitos dos deuses ali presentes e estava completamente embarcado nas perigosas aguas da gloria quando,pior do que uma golpe desferido por uma exotica espada japonesa de samurai, escutou ao seu ouvido, bem baixinho,uma pergunta feita por uma daquelas garotas de bandeja na mao, na verdade sua ex- aluna de literatura: " O senhor nao da aula la na USP?" Pano rapido, fecha-se a cortina e acendem-se as luzes:
"Sic transit gloria mundi"





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sábado, 25 de setembro de 2010

Carencia de pedigree

Parece ate coisa antiga de esquerdista dos anos sessenta e setenta mas a verdade e que a cultura americana corre mesmo em nossas veias " em desenvolvimento". Depois de tudo que vem de la e que a gente ja sabe que existe aqui ,tipo musica pop chata da Lady Gaga da vez ,seriados de TV, comedias infanto-juvenis- com -armarios- no corredor- da - faculdade, jogos de baseball, fast food, anti- tabagismo,filmes de vampiro,etc.. agora, vem chegando uma novidade de seculos atras: heraldica! Esta carencia que os norte americanos tem de uma ascedencia aristocratica , que os leva a importar castelos da Europa,pedra por pedra, e decorar suas ricas casas em um estilo que poderiamos chamar de " Trump Versailles" ( e ai, a exposicao de Jeff Koons neste palacio, recentemente, ganha um sentido mais interessante ainda, mas isto e outra historia) caso ja tenha contagiado voce, como todo o resto,e facil de resolver: ja ha programas disponiveis na internet onde voce - que talvez, como terceiro mundista, nao tenha nem sequer atestado de bons antecedentes-pode buscar seus possiveis ( eu diria pouco provaveis) antepassados nobres e, supra sumo!, criar o seu brasao.Que grande e simplificadora ideia: voce que faz curso sobre vinhos e tem de usar todas aquelas expressoes " frutoso com ligeiro toque de madeira",que compra moveis de estilo europeu com sua decoradora na feira de Santelmo em Buenos Aires e depois fica em apuros para explicar as visitas que cadeira ou mesa e aquela,voce agora pode relaxar, abrir mao destes e outros inumeros, dispendiosos e trabalhosos simbolos de status de membro de uma classe privilegiada e ,simples e heraldicamente, conceber o seu brasao. Pelos exemplos que vi, os elementos a disposicao para tal criacao com cara de trabalho de equipe,nao poderiam ser mais atuais e, no nosso caso,mais tropicais : armaduras e capacetes medievais,lancas,espadas ,serpentes,helenicas coroas de louros, enfim ,voce pode,imagino ,assinalar o que quer- como em um menu de restaurante a kilo - marcando um x na frente do simbolo desejado e ,um clique no teclado do computador depois,passara a fazer parte deste seleto clube. Uma vez composto ,o desenho,inteiro ou fragmentado, podera e devera ser aplicado em quase todos os itens que compoem a sua magnifica casa: papel higienico estampado com suas iniciais ,sua marca no regulador de velocidade do liquidificador,piscina com formato de escudo,adesivos com fotos de seus antepassados nas janelas da sala,macanetas em forma de serpentes ; use e abuse desta nova possilidade! E mais: nao tenha medo de ser jeca ;Costanza Pascolato tem 2 brasoes de familia- bordados em mantas que eram postas nas sacadas-emoldurados em sua sala de estar.A diferenca neste caso e que o dela e verdadeiro...Sabe aquela praca deslumbrante em Siena? Pois e , ela nasceu la.Ha determinadas coisas como estas, nascer nobre , chic e numa linda cidade da Italia,que nao ha internet - por mais sofisticada que seja a sua recem adquirida maquina Apple- que de jeito.So resta chorar,naquele travesseiro caro em cuja fronha voce mandou imprimir em serigrafia a sua mais recente ilusao.






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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A tomografia de Blanche Dubois

Ja li algumas coisas do Eduardo Giannetti e gostei.Entretanto este ultimo livro que acaba de sair " A ilusao da alma,biografia de uma ideia fixa"( que li ate la pela pagina 100 , limite do prazo de validade para mim de qualquer livro com menos de 800 folhas ) nao fez minha cabeca. Ou melhor ,fez. Literalmente. A alavanca de suas consideracoes metafisico- existenciais, sempre brilhantes sem duvida , e a descoberta ha alguns anos atras de um tumor cerebral ,na ocasiao de uma conferencia - que ele , por te-la feito varias vezes, conhecia de cor - quando lhe da um grande branco,lhe foge o texto e ele,meio em panico, improvisa a palestra como pode. Exame aqui e ali e, pimba! Tumor cerebral ( do qual se curou, podem ficar aliviados).E ai comeca realmente o livro com o que ele tem a dizer. Comprei-o na hora errada quando, por excesso de trabalho e preocupacao , estava padecendo do que a Nini,em um de seus engracadissimos" jeu de mots", chamava de "esgoto nervoso". Tinha de dar o numero de meu celular ( do qual estava falando) e me esquecia; tambem nao consegui me lembrar do nome do refrigerante que nos da energia, ja que estava tao cansado: " Gatorade", que, dito pelo Fernando ,meu filho, soou para mim como "Rosebud" , a palavra chave dita nos instantes finais de Mr Kane.Quando,como um golpe de misericordia indigno e banal, me encontrei no meio do super mercado sem saber o que estava fazendo ali,percebi que eu tambem deveria,pela semelhanca com a situacao do autor do livro, estar fatalmente condenado ao mesmo destino de Eduardo Giannetti. .Ninguem fez caso nem prestou atencao ao meu prognostico: deve me faltar estofo intelectual, "phisique du role", potencial dramatico, sei la.Foi quando a providencia divina - bah, providencia divina nada, que nao esta nem ai para nossos "esgotos", foi o acaso mesmo- me enviou a visita de uma amiga ,que eu nao via ja ha algum tempo e que resolveu passar aqui em casa ,depois de se submeter a uma tomografia cerebral. A razao desta ida a uma clinica foi gerada pela mesma desconfianca minha e pelos sintomas exatamente iguais. Eu ,que nao sou tao decidido quanto ela e dependo para tomar atitudes drasticas de tal teor, como Blanche Dubois, da "generosidade de estranhos", tive uma boa ideia e resolvi ,diante da ignorancia que me encontrava sobre meu estado de saude," colar" o seu exame e fazer de seu resultado,o meu diagnostico. Passamos alguns poucos dias tensos mas valeu a pena: ela estava otima ( e ,consequentemente, eu tambem!)
Ja que se alega, desde sempre, a falta de verbas para a Saude e a falencia da Previdencia como justificativa para a espera de meses ,anos por um exame, poderia ser implantado pelo governo- atraves de uma pesquisa cuidadosa da saude da populacao carente- um sistema capaz de agrupar os pacientes com os mesmos sintomas, quando um so exame valeria para dois,tres ou quatro pessoas. Quem sabe desta maneira nao se melhora o sistema de atendimento no pais e eles nao precisam fazer as costumeiras promessas de campanha - que nao vao cumprir- da criacao de tantos postos de saude e hospitais? Sei nao.Com o resultado da eleicao que vem por ai, nem assim : so Lourdes, Fatima ou, no auge da aflicao, Aparecida do Norte mesmo.







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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Minha querida dama

Ha casos que custamos a acreditar que sejam verdadeiros de tao bons que sao .Pouco importaria, na realidade,se nao o fossem , pelo divertimento que eles causam e, como fabulas, por certas expressoes que deles resultam. Para ilustrar certo tipo de situacao, uma das minhas preferidas vem de uma historia acontecida com D Babita ,mae da Barbara. Ela, a Barbara, e uma mulher inteligente,chic, mas que por baixo daquela aparencia de Alianca Francesa com figurino de Chanel, e uma pessoa muito divertida e engracada. Pois bem. Como sempre faz, la foi ela para suas ferias anuais - que sao quase sempre em Paris- desta vez levando consigo sua mae para uma tournee europeia.Sei dizer que, la pelas tantas, em algum pais ,se nao me engano na Escandinavia, nossa amiga resolve levar sua santa mae ao teatro( digo santa porque Babita alem de ser uma adoravel criatura -espero que ainda viva- e das mais religiosas e devotas pessoas da face da Terra.) Um erro fatal: escolhida a peca, perceberam no inicio do espetaculo que haviam se enganado de local-ou da programacao do teatro, talvez- e que estavam assistindo a uma comedia pornografica. Claro,ao se dar conta disto,a imediata preocupacao da filha foi salvar sua mae e retira-la daquele lugar ,imediatamente; olhou para o lado e, para sua surpresa, Babita estava la, encolhidinha no canto da cadeira com os olhos fechados . Ao que Barbara, preocupada ,lhe perguntou se estava passando mal, ela simplesmente respondeu:" Esta tudo bem minha filha, estou apenas adiantando o terco"...
Presto quase que diariamente reverencia a esta situacao surreal envolvendo duas mulheres, mae e filha, ambas absolutamente incomuns.
Por exemplo,quantas e quantas vezes, em agradaveis jantares madrugada a dentro com empresarios, a servico do grupo Corpo,eu, naquele frio danado, ja sonhando com minha cama quentinha no hotel,saia discretamente da mesa depois do cafe e ,sorrateiro, ia ao banheiro do restaurante e la ja escovava meus dentes "pra adiantar o terco". O quanto ainda me beneficio com seu exemplo, sabia Babita!




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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dancing Days, uma reforma ortografica.

Eu e o resto do Brasil adoravamos " Dancing Days", a novela inesquecivel de Gilberto Braga nos anos 70. O momento mais lembrado-esperado ansiosamente na epoca- foi o retorno de uma viagem a NY, feita pela personagem principal, uma ex-presidiaria, vivida na historia por Sonia Braga. De maltrapilha e sem graca , ela, com apenas 30 dias la fora, voltou uma mulher linda- lancando moda de meias de lurex e calcas estilo boxeador- traquejada, uma celebridade instantanea, hoje talvez comparada a uma Paris Hilton( que vive o processo inverso: nasceu rica e linda e hoje vive entrando e saindo da cadeia). Todos nos sentimos vingados ,atraves dela - Julia, era seu nome - das injusticas da vida e das maldades de Iolanda, a cruel irma da, ate entao, sofrida e injusticada criatura.
Varias vezes brinquei e fantasiei que gostaria de enviar um resumo de minha vida ao autor para que ele resolvesse a minha confusao toda e me devolvesse uma sinopse bem mais interessante. Bobagem. Tive e tenho uma vida muito movimentada da qual posso ter algumas queixas mas tedio, jamais!
Hoje, conversando com uma amiga jornalista,tive uma ideia parecida, e lhe atribui o cargo de minha revisora, objetiva e subjetivamente falando.Como assim? Simples: ela que ja revisou varios textos para mim, passaria tambem a faze-lo na minha vida. Uma correcao ortografica, uma pontuacao mais acertada. Em um relacionamento sem solucao seria colocado ,implacavelmente ,um ponto final; reticencias para uma situacao que exige um tempo, virgula quando for preciso dar uma respirada , varios pontos de interrogacao nos inumeros momentos de espanto , mesclados as vezes a pontos de exclamacao diante das varias pecas que a vida nos prega.Gramaticalmente, ela seria capaz de intervir, fazendo as devidas correcoes e pontuacoes necessarias nos mais diversos,digamos,contextos. Sem contar o prazer de poder tornar uma pessoa arrogante do meu relacionamento em proparoxitona e brindar uma conhecida chata com um tremendo de um hiato. Barras para os ambiguos tipo artista plastico/ escritor- pois eles merecem- e aspas em cima da cabeca daqueles que falam e vivem como frases feitas.
Copidescagem existencial. Nao seria uma bela carreira para se pensar no futuro? Ponto final.



A protagonista usando um modelo conhecido como " jaguatirica de um ombro so"

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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Meu ultimo suspiro

Toda vez que eu fico gripado , o mal estar e tamanho que eu acho que vou morrer.Com a tosse, me vem entao a historia da Dama das Camelias e ai eu tenho certeza que meu destino sera mesmo fatal.Desta vez , acamadissimo e entediado que estou, me veio esta coisa do ultimo suspiro de Marguerite nos bracos de Armand ( quem nao se recorda desta cena com Greta Garbo? O gala, era Robert Taylor, nao era?) e me lembrei da genial auto-biografia de Bunuel, "
Meu ultimo suspiro"e da historia que presenciei na ocasiao de seu lancamento no Brasil. Estava fazendo psicanalise nesta epoca e conversa vai, conversa vem no consultorio- ou fora dele, nao me lembro- fiquei sabendo que haveria uma palestra e ou debate sobre o seu ultimo filme " Este obscuro objeto de desejo"( para ser mais preciso, no Teatro Marilia , o que conferia ao evento ,pela escolha do local,uma agradavel sintonia com uma conversa sobre cinema e suas interpretacoes psicanaliticas) Um dos pontos cruciais a ser discutido era o uso de duas atrizes para a mesma personagem central do filme( Carole Bouquet e Angela Molina).Mesmo nos papos intelectuais ( bons e ingenuos tempos!) , teorias complicadissimas eram levantadas sobre esta dupla identidade. E ai, catastrofe! Sai o livro e com ele a explicacao. Bunuel ja havia feito varias cenas do filme, sem ordem cronologica ,como se sabe, para baixar custos de producao, quando se desentendeu seriamente com a atriz principal. Nao teve duvidas: demitiu-a, contratou outra e rodou sem nenhum pudor as partes que faltavam. Simples assim: o problema, longe de passar pelo sub- consciente, era apenas trabalhista
O livro, como era de se esperar, foi um sucesso. O debate nem tanto.






segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O silencio vale ouro

Picasso foi um genio mas isto todo mundo ja sabe. O que, talvez ,pouca gente tenha parado para pensar e que Ele ( assim com E maiusculo) nunca , ao que eu saiba, escreveu uma linha sobre seu trabalho. Entrevistas? Jamais ouvi falar. Sao atribuidas a ele


milhoes de frases ( gosto muito de uma :"quero ser rico para viver como pobre") e ex- mulheres, herdeiros, marchands, todo mundo , bem ou mal, ja deu uma " estocada" no touro espanhol. Mas da boca dele, neca! So fotos pra la e pra ca: dancando, pintando, comendo, curtindo a vida .Fico pensando nisto quando vejo artistas, principalmente os atuais, falarem sobre suas obras. Quanta vaidade, quanta bobajada...E claro que eu e voce ja lemos os escritos de Cezane,Matisse, Kandinsky, Paul Klee, Van Gogh e tantos outros mestres geniais . Mas o fato e que a maioria devia ficar caladinha e deixar o trabalho dizer, se e que ele a tem na algibeira, alguma coisa a que veio. Comprei estes dias o volume 3 de Art Now , publicado pela Taschen, com curadoria de um europeu que possui no nome umas 14 consoantes e 2 ou 3 vogais, o que lhe da , de cara ,uma certa confiabilidade. Como os outros livros deste tipo,e bem feito, as fotos tem qualidade e quem nao esta habituado ao circuito fica sabendo o que anda acontecendo no pequeno mundo das artes visuais ( nao se fala mais "artes plasticas". E o mesmo que acontece quando entro na farmacia , peco dentifricio ao inves de pasta de dentes.; o vendedor fica la com aquela cara de meu-Deus - que - isto?). Pena que alguns escolhidos nesta edicao -e em outras tambem-nao colaborem com aqueles que querem entender um pouco daquilo que estao vendo e exercitem frases hermeticas que podem ser aplicadas a qualquer coisa a qualquer momento. ,Alhures, algures...
Ja pensou esta declaracao de Jeff Koons , o deus pos-pop ,na boca de qualquer um dos citados acima?:
"Nao acredito que se possa criar arte.Mas acredito que o que nos conduz a arte e a confianca em nos mesmos,seguirmos nossos interesses e centrarmo-nos neles. E isto que leva a um estado metafisico". Ora, nao me amole! Boa noite!






Jeff Koons: " moustache", 2003, aluminio policromado e corrente de aco, 260x53x192 cm

Location:Alameda Serra da Mantiqueira,Nova Lima,Brazil

Abaixo a qualidade de vida! Viva Tiburcio!

Toda vez que o bicho pega, eu fujo para o seculo XIX. Adoro todos aqueles rituais e salamaleques ,principalmente nos autores ingleses ( meu favorito e Henry James) ,que me fazem esquecer a grosseria e vulgaridade da epoca em que estamos vivendo. Nao que eu seja um gentleman-engano bem a algumas pessoas mas definitivamente nao o sou- mas convenhamos ,nos brasileiros, depois de 8 anos de governo sem ao menos o exercicio da basica concordancia verbal em pronunciamentos oficiais por parte de seus "integrantes", e demais! Presente do subjuntivo:" Quer que eu va?" ou " espero que nao se esqueca", pode esquecer, faz parte do passado.
A perola do comportamento desta epoca me foi presenteada por meu amigo Guilherme e se chama" Everybody's book of Correct Conduct being The Etiquete of Every-day Life", onde podemos nao so aprender como apreciar um quadro em um museu, portar-se bem em sua carruagem diante dos cavalaricos, mas tambem jamais descer para o cafe da manha na residencia de seus anfitrioes enquanto todas as cortinas da casa nao tiverem sido abertas pelos criados. Uma delicia, um delirio que so os britanicos poderiam criar...
Meu cachorro Tiburcio, nascido nas ruas , era rebelde por natureza e nao compartilhava esta preferencia comigo; antes de morrer assassinado com veneno,como um verdadeiro" Easy Rider" que era, deu um boa mordida neste livro de etiqueta - como e visivel na foto anexa- e , assim, deixou registrado o seu protesto contra esta coisa , a seu ver, insuportavel, que hoje se chama "qualidade de vida".Esta expressao curiosamente,na mesquinhez que traz em si, costuma designar tudo aquilo que voce ou seu interlocutor teem ou sao capazes de fazer e os outros, presumivelmente, nao: morar e comer bem, respirar um ar razoavel, poder fazer uma viagem ou ate mesmo sexo bom: la vem ela, a tal de qualidade de vida. Insuportavel!
Tudo bem, concordo com Tiburcio, na "every-day life" , como diz o livro,isto tudo e muito chato, seja nas rigidas e ensandecidas regras do seculo XIX seja nas atuais formulas consumistas do dinheiro novo ,criadas em predios com portarias de vidro blindado e condominios com campo de pouso para helicopteros. Mas tenho saudade do meu cachorro vagabundo e do presente do subjuntivo.


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sábado, 18 de setembro de 2010

Minha querida amiga Lucia, gracas a Deus, decidiu nao morrer. Acometida de dores atrozes na coluna,vai fazer uma pequena cirurgia que vai lhe exigir , trabalhadora compulsiva que e, um grande esforco: 15 dias de descanso, quando devera ficar deitada ou em pe; sentar-se jamais! Lembrei-me imediatamente da peca de Nelson Rodrigues, "Viuva porem honesta" na qual Lucy (!!!) ex-esposa adultera se transforma em um viuva respeitosa que nao se senta por nada deste mundo! Disse a Lucia: " sua historia, alem de dolorosa, nao e sequer original mas, pelo menos, e Nelson Rodrigues! Ja pensou se fosse Paulo Coelho? E se o tal livro " Veronica decide morrer" ,que desconheco, contasse a historia de uma mulher que, enlouquecida pelo sofrimento causado por uma hernia de disco, resolvesse se suicidar?" Menos mal. Embuidos que estavamos em buscar uma solucao para este cartesiano periodo onde so sera permitida a posicao horizontal ou vertical ,chegamos a uma fantasia heretica e deliciosa: minha amiga , munida de seu Ipad, vai se transformar por duas semanas em uma Frida Kahlo do design grafico,que e sua profissao. Sem aquela chatissima obrigacao de retratar pictorica e autobiograficamente sua dor em todos os detalhes,sem cavalete portatil na cama nem espelho no teto para captar sua propria imagem. Esperta que e, alem de seu computador e uns bons livros, so vai ter mesmo uma boa bolsa de agua quente nos pes


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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Beth Coqueiro", como era conhecida no Colegio Estadual Central de BH ,onde estudei, era filha do Seu Lucas maitre do restaurante do Minas Tenis clube, lugar na epoca bacana para se comer "peixe a belle meuniere" , aquele que vinha com manteiga, seis alcaparras e um grupinho de camaroes minusculos. Pois bem. Corriam os anos setenta, quando tudo era possivel, e resolveu-se fazer uma festa a beira da piscina do Iate Club, quando seria eleita entre varias concorrentes da raca negra, devidamente caracterizadas, a "Mulata de Debret"! Hoje, tal evento ,provavelmente, poria na cadeia seu promotor por racismo e incorrecao politica; na epoca, tudo nao passou de uma coisa cafona e surreal. Como os deuses gostam de brincar conosco, Beth Lucas, uma das inscritas, venceu o concurso. O que se passou
nos anos seguintes, so conheco vagamene: mudou-se para o Rio ou Sao Paulo, fez algum sucesso como modelo e , mais tarde , casou-se com um dos homens mais ricos da Franca e virou a internacionalmente conhecida Beth Lagardere. Bravo!
Em 98, la fui eu expor em Paris na Galerie Debret ( sempre ele, que coisa!) dirigida entao por Nina Chavs , a ex-poderosissima colunista social do Globo- uma especie de " O diabo veste Dener" de sua epoca- a qual,segundo a lenda, foi "defenestrada" e enviada para fora do pais por ter feito fofoca sobre a familia Marinho em seu ( deles) proprio jornal. Simpatica, ligeiramente condescendente , me recebeu bem e se colocou a disposicao para o que fosse necessario para o sucesso da exposicao. Sugeri convidar por telefone alguns brasileiros residentes ali e , entre eles, tchan, tchan, tchan, tchan: Beth Lagardere!
Fui imediatamente desencorajado uma vez que, a referida- ja entao- senhora, nao tinha muita disponibilidade para seus conterraneos brasileiros. " Mas ela era do colegio Estadual,", protestei. Tanto fiz que a Nina ligou e passou o convite atraves de uma rede interminavel de secretarias que se comprometeram a transmitir a mensagem e , uma vez obtida, dar a resposta. Esta, nao poderia ter sido melhor:" Madame Lagardere pede desculpas por nao poder comparecer a abertura pois esta com uma agenda alucinante!" Adorei e usei esta expressao varias vezes as gargalhadas. Anos depois, eu como cenografo e Coordenador de Programacao do. Grupo Corpo tive noticias de sua presenca( menos alucinada, imagino) em um dos espetaculos da Companhia no Theatre Champs Elysees, justamente em uma das noites em que nao fui. Continua , segundo me disseram, muito charmosa e simpatica. Como todos nos, engordou e nao e mais coqueiro; esta , a julgar pelas fotos suas que vejo,mais para palmeira imperial, aquelas com tronco rechonchudo trazidas para o Brasil por D Joao VI. Sem ressentimentos, juro.

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Location:Alameda Serra da Mantiqueira,Nova Lima,Brazil

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O lavabo

Sempre observei,falei algumas vezes, mas nunca registrei por escrito o que penso sobre este espaco sagrado: o lavabo! Nas varias vezes que fui a trabalho em casa de clientes , depois de percorrer toda a residencia ,este mimo era sempre mostrado como o trunfo final: " Nao quer ver o lavabo."?Dava para fazer um tratado socio-cultural-antropologico- fisiologico sobre as motivacoes de tal pergunta. A resposta no entanto e simples: o lavabo, tambem conhecido como banheiro social ,atesta ( ou nao) a capacidade dos donos da casa de transcender a condicao humana e a mais basica de suas necessidades que e fazer xixi e coco.Este teste e definitivo e ser reprovado nele pode levar a exclusao do proprietario de nossa mais fina sociedade. Diante da ameaca de tal punicao, sao projetados verdadeiros cenarios onde, eventualmente, assim por acaso, encontra-se um vaso sanitario. Ja visitei um destes que era um labirinto de bromelias com agua escorrendo pelas paredes ( "jardim vertical") que em um caso de emergencia coloca o usuario irreversivelmente perdido.
A proposito deste assunto,estava caminhando outro dia na praca do Belvedere ( que tem um esgoto a ceu aberto cruzando o jardim rebaixado mas todo mundo finge que nao ve)quando uma tragedia aconteceu , ameacando a proclamada "qualidade de vida" dos moradores: um caminhao desentupidor de fossas - sistema de esgoto usado na regiao e em todos os condominios chics na estrada de Nova Lima- ficou passeando devagarzinho, fazendo propaganda silenciosa de seus servicos, atraves de uma grande impressao feita no veiculo com o nome da firma : " Rola Bosta".
O constrangimento foi geral mas todos os caminhantes mantiveram sua postura digna, olhando firmemente para a frente, evitando a maquina que passava devagarzinho ao lado deles. Nao pude deixar de rir; cada um deles devia estar pensando nos milhoes gastos em seus banheiros/quartos-de-panico e loucos para se refugiarem la dentro, longe deste insensato e escatologico mundo


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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Eu agora tenho um blog e estou fazendo um teste

Meus amigos, meus inimigos.
Sempre tive vontade de escrever umas coisinhas, observacoes feitas aqui e acola. Por isto chamei este blog de Velloso Cadernos de Viagens ,considerando o sentido desta ultima palavra objetiva e subjetivamente.
Vamos ver se consigo realizar esta dupla facanha: registrar um pouco da minha vida e , ao faze-lo por aqui, me tornar um ser informatizado e contemporaneo.Esta aberta a temporada de caca, sejam condescendentes e tenham paciencia comigo. A bencao mestre Camus, obrigado por me emprestar o titulo deste blog
F


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Location:Nova Lima